As palavras na escoliose e sua importância
Alessandra Negrini, fisioterapeuta italiana, Diretora técnica do ISICO, Unidade de Vigevano na Itália e uma das instrutoras da formação SEAS abordou um tema de extrema relevância que é a abordagem biopsicosocial da escoliose.
Este texto importante e necessário corrobora nossa experiência de mais de 20 anos dedicando-nos ao tratamento da escoliose.
Diariamente nos deparamos com estes fatos que Dr Alessandra tão sensivelmente abordou.
Vale muito a sua leitura, reflexão e adoção deste ponto tão importante do tratamento, ignorado na imensa maioria das vezes.
Uma das características comuns a pacientes adultos com escoliose é a sua resistência para realizar novas radiografias para investigações de controle radiológico.
Pesquisando em busca da razão disto, percebeu-se que muitas vezes essas pessoas, no passado, ouviram comentários feitos por médicos, radiologistas, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde ao ver suas radiografias.
Estas palavras foram ditas com muita facilidade, de forma rápida, ligeiramente, mas a superficialidade e a insensibilidade delas ocasionou uma consequência que penetrou como uma faca em seus corações, para não mais sair. Apesar de terem sido ditas há 50 anos atrás, quando ainda eram crianças, elas nunca foram esquecidas, trazendo-lhes o sofrimento de volta e com a mesma intensidade.
Alguns exemplos? “Mas ele sabe que a sua filha tem a corcova do camelo?”, “Como você fica de pé com as costas assim?”, “De que serve repetir as radiografias?” “Enquanto isso se endireita “,” Se ele continuar assim acabará em uma cadeira de rodas “…
Também ouviram-se comentários dizendo que não se recomendava se casar, ter filhos, ou mesmo fazer qualquer tipo de desportos: todas, sem qualquer base científica.
E para aqueles que por ter uma doença e desenvolveram confiança na equipe médica, porque eles é que contam, e para os que são extremamente sensíveis não se registra apenas o que é feito, mas acima de tudo o que foi dito, como por exemplo: “Nossa! Mas já se sabia que estava tão mal? “, pronunciado pelo radiologista quando vê pela primeira vez a radiografia, deixando também a sua marca.
Nós profissionais neste campo devemos aprender a medir muito bem as palavras: em primeiro lugar, começando por não afirmar nem a mais simples alegação se ela nunca foi provada ( sem evidências), e por outro lado estarmos atentos para não transmitir mensagens negativas.
Devemos promover a confiança e não o desespero.
Há sempre muitas maneiras diferentes de expressar a mesma mensagem: se trata de escolher a melhor.
Aqueles que nunca estiveram do outro lado, aqueles que não conheceram o medo diante do diagnóstico que está por vir, o desconforto diante do diagnóstico apresentado e a preocupação com a terapia que pode não ser eficaz, fica difícil entender o valor das palavras.
Aprendamos, em conjunto, a medir as palavras.
1 comentário em “As palavras na Escoliose”
Muito bom ouvir tais palavras de uma profissional. Poderia fazer uma coleção de frases que ouvi ao longo de 4 décadas com escoliose. E se me lembro até hoje delas (numa idade em que a memória começa a falhar), é porque, efetivamente, marcaram. Ainda que em menor quantidade, também tenho frases preciosas, cuidadosas, que guardo com carinho.
Obrigada por compartilhar o texto!