Evidência científica no tratamento da escoliose, suas armadilhas.
Atualmente se fala muito em tratamento da escoliose baseado em evidência científica.
Com a revolução da internet muitas pessoas têm acesso a um número cada vez maior de informações dispersas, não permitindo que saibam se estão diante de informação de qualidade ou não.
Mas o que é evidência científica no tratamento da escoliose?
Como saber se a evidência tem qualidade?
Como saber se uma pesquisa que aborda o tratamento não cirúrgico da escoliose está trazendo dados confiáveis?
Preparamos um material que esperamos esclareça essa tão importante questão.
Evidência
Evidência, de acordo com Houaiss é “palavra com origem no latim que significa visibilidade, clareza, transparência. É o atributo de tudo aquilo que não dá margem a dúvida.”
Evidência científica
Já a evidência científica é o conjunto de elementos utilizados para apoiar ou refutar uma hipótese ou teoria científica.
Uma evidência científica deve ser uma evidência empírica (que se apoia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e métodos científicos) obtida e interpretada de acordo com o método científico (é um método usado para a pesquisa e comprovação de um determinado conteúdo) – passível, portanto de repetição por outros cientistas em locais diferentes daquele onde foi realizada originalmente.
Oposta à evidência está a opinião, desprovida de clareza e da verdade, já que se baseia na ilusão dos sentidos.
Evidência científica na escoliose
Então evidência científica na escoliose se trata da pesquisa produzida através de métodos científicos e não tem relação com opiniões pessoais mesmo advindas de profissionais ou até de grupos de profissionais, mas com fatos que podem ser comprovados e reproduzidos.
Um dos pontos que chamam a atenção no tratamento não cirúrgico da escoliose é que durante anos houve uma baixa produção de bons estudos, ou seja, de pesquisa de qualidade. Nos últimos anos houve aumento substancial de pesquisas nesta área.
Em 2015 foi publicado: Research Quality in scoliosis conservative treatment: state of art, de Zaina et al. Em português: Qualidade da Pesquisa em tratamento conservador da escoliose: Estado de Arte de Zaina et al.
Neste estudo os autores, todos especialistas com vasta experiência tanto na produção de pesquisa como no tratamento conservador (não cirúrgico) da escoliose pontuaram que o fato de que a partir do ano 2000 o número de publicações a respeito do tratamento não cirúrgico da escoliose tenha aumentado é um dado muito positivo.
É positivo porque “na verdade pacientes e seus pais nunca pararam de procurar por bons tratamentos não cirúrgicos e também de questionar de forma crítica ao invés de simplesmente aceitar a decisão dos médicos.”
Por outro lado, os autores também mostraram uma série de erros comuns que ocorrem na pesquisa sobre escoliose e fundamentaram a importância disto devido às suas consequências.
Quanto mais for possível distinguir os erros ou falhas dos estudos, os profissionais, os pacientes e suas famílias serão beneficiados porque isto pode comprometer seriamente o resultado de tratamento que se baseia em pesquisas que apresentem estas falhas, consideradas armadilhas da evidência científica no tratamento da escoliose. Ao contrário, pesquisas levadas ao estado de arte, são bases sólidas de onde se constroem programas eficazes de tratamento.
É importante também relatar a dificuldade de elaborar estudos fortes neste campo devido ao longo tempo necessário para o acompanhamento (já que a EIA requer tratamento de longo prazo) e ao desafio de recrutar pacientes e famílias dispostos a participar do processo de decisão.
Erros metodológicos
“No entanto, os principais erros metodológicos não estão relacionados ao design do estudo, mas sim na forma como é realizado, o que afeta muito frequentemente a confiabilidade dos resultados.
Os erros mais comuns são: viés de seleção, com muitos estudos incluindo (misturando) escoliose estrutural com escoliose funcional também denominada de não real; medidas de resultado inadequadas, utilizando parâmetros não relacionados à progressão da escoliose ou qualidade de vida; acompanhamento inadequado, relatando apenas resultados imediatos e não abordando resultados de fim de crescimento; uma interpretação incorreta das descobertas, com uma superestimação dos resultados; e faltam a avaliação da maturidade esquelética, sem os quais os resultados não podem ser considerados estáveis.
Estar ciente desses erros é extremamente importante tanto para autores quanto para leitores, a fim de evitar práticas questionáveis baseadas em estudos inconclusivos que possam prejudicar os pacientes.”
Obs./No Brasil ainda temos um fator que influencia na distância ou dificuldade de acesso às evidências: a produção científica mundial é feita em Inglês e grande parte da população não tem domínio sobre este idioma.
Erros comuns na pesquisa de escoliose
Para assegurar a qualidade das publicações é preciso evitar a pesquisa tendenciosa. Isto é possível se forem adotados critérios de inclusão para coletar dados confiáveis e úteis.
E também se faz necessário o esclarecimento sobre a natureza da escoliose, ainda tão ignorada por muitos, inclusive na área da saúde.
Disseminar a informação correta e conscientizar sobre a escoliose é imprescindível.
Vamos aos critérios de inclusão
Critérios de inclusão – pontos chave
– “A escoliose idiopática não é apenas uma questão de postura, mas é uma deformidade tridimensional da coluna vertebral e do tronco.
O critério para definir a escoliose requer uma curva no plano frontal maior do que o ângulo Cobb de 10 °, a presença de rotação vertebral na radiografia e a presença de uma giba (lado mais alto que o outro observado com o tronco flexionado para frente como no teste de Adam’s) consistente com a curva (medida através do ângulo de Rotação do Tronco – ART ou Ângulo de Inclinação do Tronco – AIT).
Se a escoliose postural (que, na verdade, não é escoliose) é confundida com a verdadeira escoliose estrutural, então são propostos tratamentos para crianças saudáveis e obviamente obtêm-se bons “resultados”.
Alguns estudos relatam claramente que eles estão lidando com escoliose postural, mas um leitor menos informado pode ser confundido. Além disso, outros estudos incluem curvas inferiores a 10 °, ou faltam em relatar dados sobre o ART, e isso pode ser enganador para o leitor também.
– Outras limitações da interpretação do resultado do tratamento dependem da inclusão de uma população mista: os critérios cronológicos para a classificação da escoliose devem ser seguidos, e os pacientes devem ser divididos de acordo com a idade no momento do diagnóstico e tipo de escoliose (idiopática, secundária, congênita, degenerativa).
– Mensuração de resultado
As principais mensurações de resultado para escoliose foram claramente apontadas e consistem em avaliação de: qualidade de vida, estética, parâmetros radiográficos, medição ART / costela e perfil sagital.
Os documentos que não relatam esses resultados e afirmam que houve melhora da escoliose não podem ser usados como referências pragmáticas e apropriadas.
– Acompanhamento (Follow-up) inapropriado
Uma abordagem séria da escoliose durante o crescimento deve mostrar sua efetividade no médio prazo e não apenas no curto prazo. Se os resultados forem de curto prazo, então o estudo deve ser chamado de “preliminar” ou “piloto”. Nenhuma conclusão sobre os resultados finais pode ser extraída de estudos com um acompanhamento tão curto além da indicação para prosseguir com pesquisas futuras. Os resultados de um mês ou 3 meses são inúteis para alcançar conclusões confiáveis sobre a eficácia e 6-12 meses de tratamento só podem mostrar uma tendência que deve ser confirmada com os resultados de crescimento final e, possivelmente, um acompanhamento posterior durante a idade adulta.
– Interpretação de resultados
As conclusões devem ser suportadas pelos dados. Isso parece óbvio, mas frequentemente em todos os campos da medicina, e também na pesquisa de escoliose, há uma superestimação dos achados, com declarações de eficácia que vão além do que os dados realmente mostram. Além disso, se os métodos não são suficientemente bons para reunir qualquer boa evidência, as conclusões são, às vezes, totalmente enganosas. E esse é o problema real; alegando resultados que não foram comprovados”.
É possível perceber então que há muitas armadilhas da evidência cientifica no tratamento da escoliose. É necessário estar sempre atento.
CONCLUSÃO
Os profissionais envolvidos no tratamento da escoliose, a fim de evitar as armadilhas da evidência científica no tratamento da escoliose, devem se questionar se suas propostas terapêuticas têm base científica de qualidade com a finalidade de salvaguardar o bem-estar e a qualidade de vida de seus pacientes a longo prazo.
“A presença de erros metodológicos em publicações é um problema muito conhecido no mundo científico. A literatura baseada em tais erros pode ser muito enganosa para a população em geral, uma vez que não é fácil para o consumidor sem experiência entender em que pode confiar. Especificamente no campo da escoliose, a prática imprópria baseada no marketing (através da internet ou das mídias sociais) e não na ciência é comum, e é um motivo importante de preocupação.
Grupos científicos ativos como o Grupo de Estudo Italiano sobre Escoliose (GSS) e a Sociedade Internacional de Tratamento Ortopédico e Reabilitação da Escoliose (SOSORT) trabalham arduamente para produzir e disseminar pesquisas sólidas. A evidência séria sobre o tratamento conservador (não cirúrgico) da escoliose está crescendo em volume, dando aos médicos mais diretrizes e ferramentas para ajudar os pacientes. No entanto, apesar de alguns trabalhos de boa qualidade apresentarem pesquisas fortes e convincentes, a atenção é dada a documentos de baixa qualidade que atraem o foco do público para longe da ciência real. Esta pesquisa publicada de baixa qualidade deve ser uma grande preocupação da comunidade científica de escoliose para evitar práticas impróprias, promover a integridade profissional e, o mais importante, proteger os pacientes.”
Fonte: Zaina, Fabio et al. “Research Quality in Scoliosis Conservative Treatment: State of the Art.” Scoliosis 10 (2015): 21. PMC. Web. 22 Feb. 2018.
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