As marcas do colete

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Dra. Patricia Italo Mentges

Schroth Instructor - Fisioterapeuta

A experiência de tratamento e a escoliose não acabam quando o médico diz que é hora de retirar o colete.

Usar o colete é uma experiência única, onde podemos nos acostumar a viver com ele, como se fosse mais uma parte do nosso corpo.

Para alguns, isso pode ser um fardo, para outros, um apoio e um suporte que protege, para outros ambas as coisas… mas em todos os casos, se você usou-o corretamente, o colete pode pertencer a você de uma forma muito profunda.

Aqui, a experiência de uma leitora deste blog:

“Para mim ficou muito longe no tempo usar o colete. tenho 40 anos e me puseram aos 12-13 anos.

No começo no reduzi em nada minhas atividades. Jogava em uma equipe de basquete e só aguentei um ou dois jogos sem participar suplicando a minha mãe e ao meu treinador que me deixassem jogar. Com o colete. Não sei no que eles pensavam pois aquilo soava como um robô e no basquete há bastante contato.

A fase crítica foi no colégio coincidindo com a adolescência… Ás vezes pedia uma amiga para ficar atrás de mim… mas o tempo foi passando e ele se tornou parte de mim. De tal maneira que ao acabar o tratamento sentia a falta dele.”

Ao finalizar do tratamento com o colete é possível que permaneça uma memória, uma “marca”(“pegada”) da experiência vivida e pode se sentir a sua falta e seguir usando-o mesmo que ele não esteja mais. Isso pode acontecer tanto nos casos em que o tratamento tenha sido bem aceito quanto mesmo naqueles em que isto não tenha ocorrido.

Nos casos em que durante todo o tratamento tenham surgido dificuldades em relação à aceitação da situação e você não tenha podido contar com recursos próprios ou de fora, finalizar o tratamento com o colete poderá parecer com o fim de todos os problemas.

No entanto, o processo de aceitação é uma situação que fica pendente e não se desfaz de forma mágica com o desaparecimento do colete…você precisa fazer as pazes com sua escoliose, com o tratamento, com o médico e com todos os que têm tido uma relação próxima neste processo. Cada um tem seu tempo e tem que ser respeitado.

A conclusão do tratamento com o colete pode ser uma grande oportunidade para dedicar atenção a si mesmo/mesma e tentar dar sentido quando o colete é visto de longe e toda a experiência vivida vai tomando perspectiva, forma e sentido.

Então reiteramos o texto: A experiência de tratamento e a escoliose não acabam quando o médico diz que é hora de retirar o colete.

* Texto de autoria da Drª Elisabetta D’Agata, psicologa e psicoterapeuta italiana

Drª D’Agata, é doutora em Qualidade de Vida na Escoliose Idiopática e atualmente trabalha no Hospital Vall D’Hebron, Instituto de pesquisa em Barcelona, Espanha, com várias publicações científicas. 

Atualmente a Drª D’Agata tem uma parceria com o Projeto Escoliose onde oferece suas publicações para serem traduzidas para o português.

4 comentários em “As marcas do colete”

    1. Olá, a literatura mais antiga referia-se que uma escoliose acima de 45 Graus Cobb de curva deveria ser submetida à cirurgia. Atualmente muitos outros fatores tem que ser levados em conta antes de ser proposta a cirurgia. A cirurgia deve ser oferecida ao paciente quando foram esgotadas todas as outras formas de tratamento que tenham comprovação ou evidência científica. O projeto escoliose não é contra a cirurgia mas esta somente pode ser efetivamente proposta quando o crescimento tenha de fato acabado e principalmente se a gravidade da escoliose comprometa a saúde do portador de escoliose. Resumindo, não são somente os graus que determinam a necessidade de uma cirurgia para a escoliose.

  1. Luciane Coutinho de Rezende

    Minha filha tem 16 anos e 54 graus de escoliose nunca usou colete precisamos de informações sobre um tratamento não sei mais o que fazer, ela precisa aumentar sua auto estima, porque acho que ja esta com depressão, socorro Dra.Elisabetta D’Agata nos ajude obrigado.

    1. Olá, a Dra. Elisabetta d’Agata é uma psicóloga italiana que reside na Espanha. Lamentavelmente em nosso país ainda não conhecemos uma profissional dessa área de atuação que esteja acostumada com o tratamento da escoliose. Isto demonstra a precariedade em que se encontra o tratamento da escoliose no Brasil. Esta também é nossa luta. Abraço

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